sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O Que Significa ser Tutor da Educação a Distância


No pensamento de CLERMONT (1998), o ensino é “um ofício sem saberes” e, ao mesmo tempo, “saberes sem ofício”. O autor discorre sobre a formação de professores, por serem estes os mediadores entre o estudante e a escola e ressalta que a rapidez com que as sociedades vêm se transformando e a competição entre os Estados está cada vez mais acirrada e a posse do saber tornou-se um elemento de primeira importância. Diz o autor,

O ensino é um ofício universal. E esse ofício não somente possui uma longa história, pois suas origens retomam a Grécia antiga, mas tem um papel fundamental em nossas sociedades contemporâneas. Ora, embora ensinar seja um ofício exercido em quase todas as partes do mundo, e sem interrupção, desde a Antiguidade, ainda se sabe muito pouco a respeito dos fenômenos que lhe são inerentes. (Clermont, 1998, p. 17)

Como professor interessou-me compreender mais essa afirmação, daí porque entendi como fundamental participar desta iniciativa da AEDI de sistematizar as experiências com as tutorias.

Voltando ao pensamento do autor. Ofício sem saberes, porque, segundo o educador francês, bastaria que o pretendente conhecesse o assunto, ter talento, ter bom senso, seguir a intuição, ter experiência e ter cultura para ensinar. Saberes sem ofício, porque a formação de professores ganha contornos teóricos inspirados nas ciências humanas, tais como: a psicologia humanista, a piagetiana, incluindo as que perpassam as críticas epistemológicas formuladas por SCHÖN (1994) em relação a racionalidade técnica.

Estes autores com maestria apontam as (de)formação de professores dos quais somos em grande parte oriundos nos cursos acadêmicos. Para o exercício do magistério o que importa é que “as crianças aprendam”, não se importa a forma como essa aprendizagem e esse ensino se dão. Ainda, sob o senso comum se pensa que um pouco de experiência, ou um pouco de cultura, alguma curiosidade, ou quem sabe, alguma vontade ou oportunidade de ser professor ou professora e, por esses atributos já se torna o profissional desejado. Por outro lado, o ensino seria uma teoria sem ofício, isso nos faz refletir sobre o (des)compromisso de muitos, pois pouco adiantariam os fundamentos filosófico-sociológico-antropológicos e a preparação técnica cuidadosa, se o pretendente não estiver preparado emocional e afetivamente, como também, comprometido com as verdadeiras causas (e conhecer essas causas) da nobre arte de ensinar.

Em outras palavras, ser professor precisa sim ter atributos pessoais, individuais que façam a diferença, precisa sim ter uma sólida formação acadêmica e técnica adequada que o diferencie dos que improvisam, dos que fazem por obrigação do ofício simplesmente... E quantos assim não agem?

Lendo CLERMONT, lembrei-me da minha primeira e grande mestra – minha mãe - a conheci na escola (no interior era assim, a escola era a sala da casa da professora), dizia-me ela: a escola é onde a gente aprende sempre. E não adiantava eu dizer que eu já sabia a lição. Foram bons e longos anos aqueles que já vão distantes... Não esqueci a lição, aprendo em cada aula que ministro. Não tive a chance de ser médico como sonhei, sou dedicado à docência por opção. Nutro ainda o desejo de cursar o Mestrado em Educação.

Como Professor Normalista (meu primeiro curso de magistério foi o Curso Normal de professor regente do Ensino Primário, Lei 4.024/61) e depois como Pedagogo com habilitação em Administração Escolar pela UFPA, Especialista em “Gestão Escolar” (curso realizado em EaD pela CESUPA) e em “Currículo e Avaliação na Educação Básica” (presencial pela UEPA), pude vivenciar o processo de ensino e aprendizagem do Ensino Fundamental (5ª a 8ª série), Ensino Médio ao Ensino Superior.

Já exerci a função de gestor escolar por mais de doze anos (continuo exercendo) e fui gestor municipal de ensino, como secretário de educação.

Docente no curso de formação de professores (Curso Normal) em nível de ensino médio lecionei – Filosofia, Sociologia e História da Educação, Estatística Aplicada à Educação, Currículo e Didática, presenciei as dificuldades vivenciadas pelas escolas e por nós professores para promover um ensino de qualidade. Foram esses professores que mais tarde nos substituíram nas séries iniciais do Ensino Fundamental.

Como docente no ensino superior lecionei: Didática Geral e Especial, História da Educação, Estrutura e Funcionamento da Educação Básica, Planejamento e Avaliação Educacional, e, Orientação de TCC, em vários Núcleos da UEPA. Vim para Parauapebas continuo a exercer a docência no ensino Médio nas disciplinas de Sociologia e Filosofia, e, Fundamentos da Educação em cursos de graduação em Instituições de ensino à distância.

Possa afirmar que vivenciei efetivamente a educação no que diz respeito ao processo de ensinar, aprender e avaliar... Testemunhei as dificuldades dos nossos professores que se lançam à tarefa de ensinar sem as mínimas condições de fazê-lo. Aliás, é o que acontece com todos nós professores iniciantes, porém, com uma diferença: a preparação acadêmica, por mais ineficiente que seja, deixa sempre um conteúdo teórico substancial, diferente dos professores que, apesar dos esforços sem essa preparação, vão para a sala de aula.

Consolidei o pensamento de que sem a formação acadêmica, sem maturidade emocional e afetiva necessária ao educador, e, geralmente, sem domínio de conteúdo, o ensino chega a ser triste e não só ineficiente.

Continuo aprendente (Perrenoud, 2002), tenho feito reflexões sobre o processo avaliativo – para mim, quem não sabe avaliar não sabe ensinar, não sabe educar... Nesse terreno, apesar das muitas teorias e bons estudos produzidos, ainda há muitos discursos, muitas incertezas e muito ainda a ressignificar.

Comecei neste ambiente desafiador da Educação a Distância meio que desconfiado pois os discursos sobre a EaD ainda são muito depreciativos.

A experiência de cursar uma pós-graduação à distância me fortaleceu a certeza de que era possível obter formação acadêmica por essa metodologia. Entretanto, não foi fácil em princípio, ter que estudar sem ter acesso ao computador. Em 2001, ainda não havia acesso à internet em nosso Município (Curuçá). Hoje sei que o esforço foi válido, pois me deram o aporte acadêmico de tantos anos de trabalho e isso me ajudou muito no desenvolvimento nas atividades de tutoria.

Fascina-me participar da formação de novos profissionais docentes para atuar nesta Amazônia carente de bons docentes, principalmente, nos cursos das Ciências da Natureza.

É preciso que os governos - Federal e Estadual - priorizem políticas de formação de professores para esta realidade tão diversa. É preciso que as Instituições de Ensino Superior produzam conhecimentos sobre as riquezas do nosso ecossistema, tendo em vista a convivência harmoniosa do homem com a natureza, sem depredá-la. Educar as pessoas é também prepará-las para a proteção e preservação do planeta Terra (Morim, 2020).

No curso de especialização em “gestão” semi-presencial, vi o esforço e a importância como atuava nossa tutora; aprendi com ela que o entusiasmo e a “cobrança” sobre as atividades do tutor é fundamental para os estudantes. Destaco a motivação e o encorajamento como desafios e qualidades importantes para atuar na docência superior à distância e que, além destes, a habilidade em trabalhar com a informática, habilidade que contribui para o desempenho da função de tutor.

Percebo a Ead como o grande avanço das “novas” tecnologias de ensino da pós-modernidade. O mundo real nunca mais foi o mesmo depois dessa tecnologia. Virtualmente, o homem produz e se reproduz em contextos absolutamente diversificados onde a informação flui com a velocidade de um simples clicar no “mouse”. Daí que dominar essa tecnologia é fundamental para os novos professores. O medo do computador, o medo de perder o lugar para a máquina, o medo do ambiente virtual, etc., são fruto de mentalidades que ainda não se libertou do ensino nos moldes tradicionais – quem não se adequar rápido a estas transformações tecnológicas, perde a noção de seu tempo.

A Ead faz parte das inúmeras estratégias que a tecnologia de ensino coloca à disposição das Universidades, com vistas à popularização do ensino superior, não no sentido da banalização é bom lembrar que os inúmeros cursos que não sabe ao certo se são à distância ou semi-presencial, por Instituições que carecem de credibilidade.

É urgente que as Universidades Públicas assim procedam, principalmente, para regiões como a nossa de difícil acesso. A UFPA, felizmente, ou, quem sabe, um pouco tarde, transforma-se em um instrumento que conduzirá responsavelmente, o acadêmico ao saber de qualidade, e, também, proporcionará ao acadêmico o diálogo criativo com as dúvidas e interrogações deste tempo - quais são as conseqüências desse novo modo de aprender e ensinar? Como ficará o professor em relação ao seu espaço de ensinar -, condição essencial para a formação profissional, seja ela de docente ou de pesquisador.

A Ead permite que o tutor e o acadêmico, vivenciem um ambiente especial de aprendizagem; é num desafio constante de ensinar e aprender ditando o ritmo da aprendizagem. significativa, onde o acadêmico deve se transformar efetivamente no agente de seu conhecimento, onde a pesquisa-ação seja o motor da investigação e produção de novos saberes. A Ead vem responder as exigências de uma nova interação onde as chamadas inteligências artificiais ocuparão espaços, e, as articulações necessárias com as novas interfaces tornarão o exercício docente ainda mais instigante e criativo.

A Ead é um caminhar... Um novo olhar sobre a estrada – a escola, a universidade – que às vezes deteriorada pelos humores de quem ensina, de quem aprende, e, também, de quem gerencia/financia, a torna desacreditada e arcaica... Apesar de tudo, é lá onde a gente sempre vai aprender!

O tutor presencial dos Cursos de Licenciatura que eu prefiro chamar de “orientador de ensino” exerce, sem dúvida, uma função imprescindível na formação de professores. No desejo de que nossos estudantes se tornem profissionais de ofício - com saberes e prática - interessa-nos alcançar esse objetivo, mesmo sabendo que estamos servindo de mão-de-obra barata para os planos do Governo Federal.

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